terça-feira, 28 de agosto de 2012

Lisboa está deserta


«A cidade está deserta, e alguém escreveu o teu nome em toda a parte», este poderia ser mais um título de um dos artigos que enche os jornais e revistas que todos os verões fazem questão de referir, tratar e voltar a documentar que os emigrantes estão de volta às suas terras.

Lisboa está deserta! São 31 dias que o mês de Agosto mostra aos portugueses uma cidade diferente. Onde o Cais das Colunas se enche se olhares desconhecidos, de turistas que contemplam cada recanto da capital deste país à beira-mar plantado.
Chegam os turistas, vão-se embora as pessoas. A baixa lisboeta é decorada com cores diferentes em cada cara, sotaques e línguas de todos os cantos do mundo; afinal, eleita uma das cidades que os turistas levam no coração para mais tarde recordar é ainda mais atractiva.
Do Parque das Nações a Belém, tudo são pessoas, mas só os poucos trabalhadores que não conseguiram férias estão presentes, todos os outros vêm conhecer, estudar, aprender, visitar, amar Lisboa.
O sinal luminoso do Terreiro do Paço continua a funcionar, mas em vez da habitual fila de trânsito e das buzinadelas que costumam ecoar todo o resto do ano, para um ou outro carro de vez enquanto, alguns com matrícula estrangeira.
As greves que os transportes anunciam durante este Agosto nem se fazem sentir. A capital está de férias e ninguém fez um simples artigo porque os que emigraram não voltam a Lisboa porque não é o seu berço. Mas chegarão os tempos em que os emigrantes enchem Lisboa e Agosto não será mais um mês deserto, porque a geração que agora sai é uma geração da capital e quando voltar, no fatídico mês de Agosto, anseia Lisboa e não outras terras. Do passeio na Baixa, a pôr a conversa em dia no Bairro Alto, Lisboa é Lisboa, em Agosto ou noutro qualquer mês, em Portugal ou noutro qualquer recanto do mundo onde só quem nasce lusitano sabe o que a «saudade» significa e quando mais dói.
«A cidade está deserta» e mesmo deserta não perde o seu encanto entre as nuvens que desenham o pôr-do-sol, porque Lisboa é «menina e moça, amada, cidade mulher da minha vida».






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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Eu sou 91, tu és 96. Entre nós nunca vai resultar


Esta é uma «regra» que se impõe no quotidiano da juventude portuguesa de hoje em dia, consumidos pelo comodismo e regalia das mensagens e chamadas gratuitas para a mesma rede. As culpadas são das operadoras.
É sobre esta «Geração Extreme» que Inês Teixeira-Botelho, aluna da Universidade Católica Portuguesa, escreveu a sua tese de mestrado, agora também em livro.

Eu ainda sou do tempo em que as mensagens se pagavam, tudo era contabilizado para poupar, pediam-se «extras» de 1€ a amigos para mandar mais uma ou duas mensagens quando os pais não queriam voltar a carregar o telemóvel e se escrevia «Oi td b?Vms bbr 1cafe?» (Olá tudo bem? Vamos beber um café?) na tentativa de não ultrapassar os 160 caracteres limite e não pagar mais. Sou ainda da era dos ‘toques’ em que se recebêssemos um toque queria dizer «sim» e dois toques queria dizer «não», ou em que dar um toque significava «Estou à tua porta. Desce».

A comodidade a que as operadoras móveis nos habituaram com mensagens grátis, chamadas para mesma rede e agora pacotes de internet, fazem com que existam 3 «bolhas»: Extreme Vodafone, Tag Optimus e Moche Tmn, onde quem entra numa não pode aceder à outra bolha.
«Geração Extreme» fala exactamente dessas bolhas e do que elas podem gerar. Ou se tem dois ou três telemóveis para familiares e amigos e se consegue contactar com todos ou, por outro lado, e este o mais vulgar, têm-se apenas um telemóvel, uma rede e cria-se o próprio mundo em função dessa rede.
Se uma pessoa é 91 e a outra é 96, existe um limite económico que não permite o contacto. Ainda que este limite seja apenas imaginários e que se as pessoas antigamente comunicavam por cartas para os quatro cantos do mundo e mantinham uma amizade, hoje este limite, esta bolha é imposta por comodismo. Para quê gastar mais 5€ da mesada quando se pode fazer tudo com apenas 5€?
Tal como Inês refere, estas bolhas tanto integram ou expulsam «os elementos que não pertençam ao mesmo grupo da rede de telecomunicações.»

O telemóvel é hoje em dia, visto pela maioria dos jovens, uma «parte da identidade pessoal », diz a investigadora Inês Teixeira-Botelho, se antes não se saía à rua sem relógio, hoje não se sai sem telemóvel. E há quem apenas de pensar que pode perder ou danificar o seu mais estimado aparelho, perdendo contactos e ficando incontactável é o fim do mundo!
Os jovens de hoje são «cidadãos do mundo», dispostos a manter relações «que sejam uma extensão da sua própria identidade». É aqui que o telemóvel assume grande importância, pois é visto como «parte da identidade pessoal dos jovens e também a base da sua sociabilidade enquanto seres humanos».
"É difícil para eles pensar na realidade de forma separada das suas tecnologias pessoais", comenta Inês. O que os caracteriza são as "relações interpessoais ininterruptas", sendo que "esta geração criou uma nova pontualidade". São «hypertext-minds», ou seja, os raciocínios que têm são desenvolvidos em paralelo e executam várias tarefas ao mesmo tempo.

Esta é uma «Geração Extreme» sempre em contacto com os entes mais queridos através de telemóvel, internet, redes sociais; além da mentalidade desta geração que Inês veio a descrever, a autora notou, durante a investigação, que existem tarifários que predominam mais a norte e outros mais a sul.

domingo, 19 de agosto de 2012

De todos, um!


O campeonato acaba de iniciar-se e está tudo em aberto, mas nem o sol abrasador do verão fez esquecer o amor por um clube. Uma coisa é certa: iniciou-se a época das guerras de palavras, onde a culpa é do árbitro e há sempre alguém que compra resultados. Em início de época a questão impõe-se: O que é ser Benfica: amar um clube, odiar outros, gritar até que a voz nos doa?

Adeptos, sócios e simpatizantes responderam: «É ter alegria, ter orgulho…» e que o que é preciso «É ter na alma a chama imensa que nos conquista!», que ser do Benfica é «É ser do maior clube do mundo…acho que isso explica tudo, se fossemos pequenos ninguém sabia da nossa existência e do amor que sentimos», que tudo é «motivação e acreditar sempre». Agora que já não se culpa o Benfica disto e daquilo, que o Pinto da Costa está no lugar dele e deixou a arbitragem em paz, agora que existe paz clubista em Portugal e o silêncio reina de norte a sul a questão que impus foi simples:

O que é ser Benfica: amar um clube, odiar outros, gritar até que a voz nos doa?
Adeptos, sócios e simpatizantes responderam: «É ter alegria, ter orgulho…» e que o que é preciso «É ter na alma a chama imensa que nos conquista!», que ser do Benfica é «É ser do maior clube do mundo…acho que isso explica tudo, se fossemos pequenos ninguém sabia da nossa existência e do amor que sentimos», que tudo é «motivação e acreditar sempre». Os inspirados, os ferrenhos, os que vivem o futebol disseram «Ser Benfiquista não se explica, sente-se. Não somos nós que escolhemos o Benfica, é o Benfica que vê em nós a chama imensa e nos escolhe. Ser Benfiquista é uma crença», que fazer parte dos encarnados é como fazer parte de «uma enorme família crente num mesmo clube e inabalavelmente fiel.». Não se é do Benfica, nasce-se assim «Ser do Benfica é algo que nasce connosco não o podemos escolher» porque é «ser apaixonado pelo clube, ter a chama imensa de campeão».

Afinal ser benfiquista e amar o Benfica não é uma fórmula única, não só o ter orgulho ou a chama, não são só as vitórias, não é só reclamar com os clubes rivais, nem ódia-los, não é apenas cantar as músicas que dão no estádio, não é estar no meio da claque, não é ir apoiar o Benfica uma vez por ano, não é ficar sem voz em todos os jogos, não são os couratos e a cerveja das roulotes, não é ser-se sócio desde que se nasce, não é ter todos os equipamentos.

Ser Benfica é ter amor de um clube, que com altos e baixos, maiores ou menores voos, sobrevive à mais de 100 anos em todo o Mundo dando-nosalegrias e tristezas, mas mostrando que há sempre outro caminho, outro ano, melhores dias e que unidos faremos a diferença. É gritar quando é preciso,apoiar sempre o clube quer seja dentro ou fora do estádio, é ter-se amor, e saber que esse amor perdura e sobreviverá a todos os tormentos que hão-de vir, bem como todas as lágrimas de alegrias que o clube com a cor do sangue que nos corre nas veias nos dará.
E quando pensamos que já não se tem a mesma garra de há muitos anos atrás Bella Guttman, jogador e treinador, relembra «Chove? Está frio? Está calor? O que importa? Nem que o jogo seja no fim do Mundo, entre as neves das serras ou no meio das chamas do inferno. Seja pela terra, pelo mar ou pelo ar eles aí vão, os adeptos do Benfica atrás da sua equipa. Grande, incomparável e extraordinária massa associativa!»
«Ser do Benfica é algo mágico», e assim termino a minha tentativa de perceber algo que vai para além de todas as palavras do dicionário e das mais belas frases de amor.

Em tempo de crise, a música canta-a

A notícia foi avançada pelo jornal Expresso, os músicos cantam o que sentem, neste caso a crise.
São músicos de renome os que escrevem sobre a crise, tendo a música como forma de protesto. Do Boss AC a Sérgio Godinho, passando pelos Virgem Suta e até Saul.

"Malhão da crise", Saul
Que será da nossa vida, já estamos tão entalados
Enquanto que há outros que, enfim, estão muito bem amanhados
Estão muito bem amanhados à conta do Zé Povinho,
Mamaram de uma só vez e não deixaram um bocadinho





"Hoje é um bom dia!", Anaquim
Chega-te ao ouvido que a coisa piora
Jogam-se carreiras p'la janela fora
Joga-se roleta a toda a hora
Rezam profecias que não há futuro
Viram-se p'ra Meca p'ra baixar o juro
Há lamentações e não há muro
Hoje é um bom dia p'ra mudarmos esta porra
Pegarmos o touro por pior que a coisa corra





"O acesso bloqueado", Sérgio Godinho
Dar de barato o futuro é prematuro, é prematuro
mas foi tudo mal contado
deixaste o fruto no passado
ficar maduro, ficar maduro
e agora podre por não ser usado
mas entre fazer ou não fazer
entre fazer ou não fazer
sempre sobra algum trocado
crédito mal aparado
agora, adivinhar o presente mesmo tão inteligente
isso... ficas todo baralhado





"Com todo o respeito", Jorge Palma
Os impostos disparam, apertamos o cinto.
Isto é para toda a gente, salvo raras exceções
Até alguém dizer: chega
Com todo o respeito
Falta virem taxar-me pelo ar que respiro,
Pelo passo que dou, cada vez que espirro.
Hão-de arranjar maneira
Com todo o respeito





"Paraíso Fiscal", Diabo a Sete
Sabe bem pagar tão pouco
O segredo é total
Tens na ilha uma morada
Virtual
No Paraíso Fiscal
O silêncio é d'ouro
As mobílias são de prata
E os jardins de couro
Anjos, deuses, capitais
Filhos de alguém especial
Somar zeros à direita
Não faz mal





"Sexta-feira (Emprego bom já)", Boss AC
Tantos anos a estudar para acabar desempregado
Ou num emprego da treta, mal pago
E receber uma gorjeta que chamam salário
Eu não tirei o Curso Superior de Otário
...não é por falta de empenho
Querem que aperte o cinto mas nem calças tenho
Ainda o mês vai a meio já eu 'tou aflito
Oh mãe fazias-me era rico em vez de bonito
É sexta-feira
Suei a semana inteira
No bolso não trago um tostão
Alguém me arranje emprego
Bom bom bom bom
Já já já já





"Já não dá (Saímos para a rua), Chullage
Só vejo casas com placas
de leilão ou de venda
e a minha vai pelo mesmo andar
que eu já não aguento esta renda
e governo não dá as famlias
mas dá aos bancos bué pinlin
mais tarde ou mais cedo
dás com um broda a dormir
no banco dum jardim
e querem que um gajo mendigue
pela merda dum subsidio
parado na segurança social
onde o funcionário agride-o
e de repente
o povo ta perder o raciocínio
e admiram o aumento
de assaltos e assassínios
o pior é que nós e que sofremos
com os assaltos e assassínios
que esses filhos da puta estão protegidos
escondidos nos seus condomínios
os verdadeiros assaltantes
entram no banco na maior
e saem com as mãos no bolso do fato
e o dinheiro desviado pra um off-shore





"Deus, Pátria e Família", B Fachada
Portugal está para acabar
É deixar o cabrão morrer
Sem a pátria para cantar
Sobra um mundo para viver
Chegam flores do estrangeiro
Já escolhemos o coveiro
Por mim é para queimar
Mas não quero exagerar





"Parva que sou", Deolinda
Sou da geração sem remuneração
e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar,
já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.





"Exporto tristeza", Virgem Suta
Os pobrezinhos são bem bruto energia
Coitadinhos melhor que leite do dia
Alimentado sopa gode quando calha
Lá fazem vida que Deus lhes valha
Contra a pobreza exporto a minha tristeza
Contra a miséria ja nem faço cara séria
Se estou com fome canto o fado p'ra esquecer