domingo, 19 de agosto de 2012

Em tempo de crise, a música canta-a

A notícia foi avançada pelo jornal Expresso, os músicos cantam o que sentem, neste caso a crise.
São músicos de renome os que escrevem sobre a crise, tendo a música como forma de protesto. Do Boss AC a Sérgio Godinho, passando pelos Virgem Suta e até Saul.

"Malhão da crise", Saul
Que será da nossa vida, já estamos tão entalados
Enquanto que há outros que, enfim, estão muito bem amanhados
Estão muito bem amanhados à conta do Zé Povinho,
Mamaram de uma só vez e não deixaram um bocadinho





"Hoje é um bom dia!", Anaquim
Chega-te ao ouvido que a coisa piora
Jogam-se carreiras p'la janela fora
Joga-se roleta a toda a hora
Rezam profecias que não há futuro
Viram-se p'ra Meca p'ra baixar o juro
Há lamentações e não há muro
Hoje é um bom dia p'ra mudarmos esta porra
Pegarmos o touro por pior que a coisa corra





"O acesso bloqueado", Sérgio Godinho
Dar de barato o futuro é prematuro, é prematuro
mas foi tudo mal contado
deixaste o fruto no passado
ficar maduro, ficar maduro
e agora podre por não ser usado
mas entre fazer ou não fazer
entre fazer ou não fazer
sempre sobra algum trocado
crédito mal aparado
agora, adivinhar o presente mesmo tão inteligente
isso... ficas todo baralhado





"Com todo o respeito", Jorge Palma
Os impostos disparam, apertamos o cinto.
Isto é para toda a gente, salvo raras exceções
Até alguém dizer: chega
Com todo o respeito
Falta virem taxar-me pelo ar que respiro,
Pelo passo que dou, cada vez que espirro.
Hão-de arranjar maneira
Com todo o respeito





"Paraíso Fiscal", Diabo a Sete
Sabe bem pagar tão pouco
O segredo é total
Tens na ilha uma morada
Virtual
No Paraíso Fiscal
O silêncio é d'ouro
As mobílias são de prata
E os jardins de couro
Anjos, deuses, capitais
Filhos de alguém especial
Somar zeros à direita
Não faz mal





"Sexta-feira (Emprego bom já)", Boss AC
Tantos anos a estudar para acabar desempregado
Ou num emprego da treta, mal pago
E receber uma gorjeta que chamam salário
Eu não tirei o Curso Superior de Otário
...não é por falta de empenho
Querem que aperte o cinto mas nem calças tenho
Ainda o mês vai a meio já eu 'tou aflito
Oh mãe fazias-me era rico em vez de bonito
É sexta-feira
Suei a semana inteira
No bolso não trago um tostão
Alguém me arranje emprego
Bom bom bom bom
Já já já já





"Já não dá (Saímos para a rua), Chullage
Só vejo casas com placas
de leilão ou de venda
e a minha vai pelo mesmo andar
que eu já não aguento esta renda
e governo não dá as famlias
mas dá aos bancos bué pinlin
mais tarde ou mais cedo
dás com um broda a dormir
no banco dum jardim
e querem que um gajo mendigue
pela merda dum subsidio
parado na segurança social
onde o funcionário agride-o
e de repente
o povo ta perder o raciocínio
e admiram o aumento
de assaltos e assassínios
o pior é que nós e que sofremos
com os assaltos e assassínios
que esses filhos da puta estão protegidos
escondidos nos seus condomínios
os verdadeiros assaltantes
entram no banco na maior
e saem com as mãos no bolso do fato
e o dinheiro desviado pra um off-shore





"Deus, Pátria e Família", B Fachada
Portugal está para acabar
É deixar o cabrão morrer
Sem a pátria para cantar
Sobra um mundo para viver
Chegam flores do estrangeiro
Já escolhemos o coveiro
Por mim é para queimar
Mas não quero exagerar





"Parva que sou", Deolinda
Sou da geração sem remuneração
e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar,
já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.





"Exporto tristeza", Virgem Suta
Os pobrezinhos são bem bruto energia
Coitadinhos melhor que leite do dia
Alimentado sopa gode quando calha
Lá fazem vida que Deus lhes valha
Contra a pobreza exporto a minha tristeza
Contra a miséria ja nem faço cara séria
Se estou com fome canto o fado p'ra esquecer

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