segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Eu sou 91, tu és 96. Entre nós nunca vai resultar


Esta é uma «regra» que se impõe no quotidiano da juventude portuguesa de hoje em dia, consumidos pelo comodismo e regalia das mensagens e chamadas gratuitas para a mesma rede. As culpadas são das operadoras.
É sobre esta «Geração Extreme» que Inês Teixeira-Botelho, aluna da Universidade Católica Portuguesa, escreveu a sua tese de mestrado, agora também em livro.

Eu ainda sou do tempo em que as mensagens se pagavam, tudo era contabilizado para poupar, pediam-se «extras» de 1€ a amigos para mandar mais uma ou duas mensagens quando os pais não queriam voltar a carregar o telemóvel e se escrevia «Oi td b?Vms bbr 1cafe?» (Olá tudo bem? Vamos beber um café?) na tentativa de não ultrapassar os 160 caracteres limite e não pagar mais. Sou ainda da era dos ‘toques’ em que se recebêssemos um toque queria dizer «sim» e dois toques queria dizer «não», ou em que dar um toque significava «Estou à tua porta. Desce».

A comodidade a que as operadoras móveis nos habituaram com mensagens grátis, chamadas para mesma rede e agora pacotes de internet, fazem com que existam 3 «bolhas»: Extreme Vodafone, Tag Optimus e Moche Tmn, onde quem entra numa não pode aceder à outra bolha.
«Geração Extreme» fala exactamente dessas bolhas e do que elas podem gerar. Ou se tem dois ou três telemóveis para familiares e amigos e se consegue contactar com todos ou, por outro lado, e este o mais vulgar, têm-se apenas um telemóvel, uma rede e cria-se o próprio mundo em função dessa rede.
Se uma pessoa é 91 e a outra é 96, existe um limite económico que não permite o contacto. Ainda que este limite seja apenas imaginários e que se as pessoas antigamente comunicavam por cartas para os quatro cantos do mundo e mantinham uma amizade, hoje este limite, esta bolha é imposta por comodismo. Para quê gastar mais 5€ da mesada quando se pode fazer tudo com apenas 5€?
Tal como Inês refere, estas bolhas tanto integram ou expulsam «os elementos que não pertençam ao mesmo grupo da rede de telecomunicações.»

O telemóvel é hoje em dia, visto pela maioria dos jovens, uma «parte da identidade pessoal », diz a investigadora Inês Teixeira-Botelho, se antes não se saía à rua sem relógio, hoje não se sai sem telemóvel. E há quem apenas de pensar que pode perder ou danificar o seu mais estimado aparelho, perdendo contactos e ficando incontactável é o fim do mundo!
Os jovens de hoje são «cidadãos do mundo», dispostos a manter relações «que sejam uma extensão da sua própria identidade». É aqui que o telemóvel assume grande importância, pois é visto como «parte da identidade pessoal dos jovens e também a base da sua sociabilidade enquanto seres humanos».
"É difícil para eles pensar na realidade de forma separada das suas tecnologias pessoais", comenta Inês. O que os caracteriza são as "relações interpessoais ininterruptas", sendo que "esta geração criou uma nova pontualidade". São «hypertext-minds», ou seja, os raciocínios que têm são desenvolvidos em paralelo e executam várias tarefas ao mesmo tempo.

Esta é uma «Geração Extreme» sempre em contacto com os entes mais queridos através de telemóvel, internet, redes sociais; além da mentalidade desta geração que Inês veio a descrever, a autora notou, durante a investigação, que existem tarifários que predominam mais a norte e outros mais a sul.

Sem comentários:

Enviar um comentário