«Não é parar que é morrer; é ir andando».
E assim terminava o livro. Não era uma lição de vida, não era
mais uma locução sem sentido e descabida, nem era uma frase feita daquelas que
eu odeio. Era a expressão. No final de um livro sem sentido, chato, onde basta
ler o início e fim de cada capítulo para saber o conteúdo, no final havia algo.
Não vamos andando… andamos até à paragem do autocarro,
caminhamos até ao café, vagueamos até ao trabalho… a vida não vai andando, a
vida corre e quando nos apercebemos não fizemos nada porque a vida escorrega. «A
vida são dois dias», já dizia a sabedoria popular, o dia em que se vem ao mundo
e o dia em que o deixamos, e o importante é o que fazemos entre um dia e outro.
Não vamos andando, a vida não vai andando: foge-nos; e
quando dermos por ela já terminou e não realizámos sonhos, nem atingimos
objectivos. Não há quem possa brincar com a nossa vida: brincamos nós. E a brincar,
a brincar o tempo passa e não podemos ir andando.
A vida não é para ir andando, ela não vai andando: ou corre
no supra-sumo de um escorrega de uma vida loucamente vivida e provida daquilo a
que chamamos “vida", ou pára e se assim for venham de lá todos os anjinhos para
nos guiar para o outro lado (se é que existe um outro lado).
Não é fácil viver, mas não dará mais trabalho que tudo nos
escorregue pelas mãos como a água da chuva que cai lá fora e quando a quisermos
agarrar o tempo já tenha terminado? Dá trabalho viver, mas foi para isso que
nos meteram no mundo; mesmo que seja um mundo cruel é a vida, e tem de ser
vivida!
Dá trabalho viver, mas o ir andando mata mais depressa do
que parar, consome-nos, tortura-nos, desvaloriza-nos e acaba por nos tirar o
ar. O ir andando é estar na corda bamba, uma corda que arrebenta mais depressa
que as outras. Não é para ir andando que respiramos, mas para viver, e se é
para viver que seja à grande e à portuguesa: ri, chora, ama, sonha, erra, luta,
acredita, beija, mas vive!
O mundo é um lugar tão divertido (e essa diversão só pode
ser feita por nós), que se pararmos perdemos a montanha russa das emoções,
perdemos a vida (seja lá o que isso for).
«Não é parar que é morrer; é ir andando».