quarta-feira, 26 de novembro de 2014

«Não é parar que é morrer; é ir andando»

«Não é parar que é morrer; é ir andando».

E assim terminava o livro. Não era uma lição de vida, não era mais uma locução sem sentido e descabida, nem era uma frase feita daquelas que eu odeio. Era a expressão. No final de um livro sem sentido, chato, onde basta ler o início e fim de cada capítulo para saber o conteúdo, no final havia algo.

Não vamos andando… andamos até à paragem do autocarro, caminhamos até ao café, vagueamos até ao trabalho… a vida não vai andando, a vida corre e quando nos apercebemos não fizemos nada porque a vida escorrega. «A vida são dois dias», já dizia a sabedoria popular, o dia em que se vem ao mundo e o dia em que o deixamos, e o importante é o que fazemos entre um dia e outro.

Não vamos andando, a vida não vai andando: foge-nos; e quando dermos por ela já terminou e não realizámos sonhos, nem atingimos objectivos. Não há quem possa brincar com a nossa vida: brincamos nós. E a brincar, a brincar o tempo passa e não podemos ir andando.

A vida não é para ir andando, ela não vai andando: ou corre no supra-sumo de um escorrega de uma vida loucamente vivida e provida daquilo a que chamamos “vida", ou pára e se assim for venham de lá todos os anjinhos para nos guiar para o outro lado (se é que existe um outro lado).

Não é fácil viver, mas não dará mais trabalho que tudo nos escorregue pelas mãos como a água da chuva que cai lá fora e quando a quisermos agarrar o tempo já tenha terminado? Dá trabalho viver, mas foi para isso que nos meteram no mundo; mesmo que seja um mundo cruel é a vida, e tem de ser vivida!

Dá trabalho viver, mas o ir andando mata mais depressa do que parar, consome-nos, tortura-nos, desvaloriza-nos e acaba por nos tirar o ar. O ir andando é estar na corda bamba, uma corda que arrebenta mais depressa que as outras. Não é para ir andando que respiramos, mas para viver, e se é para viver que seja à grande e à portuguesa: ri, chora, ama, sonha, erra, luta, acredita, beija, mas vive!

O mundo é um lugar tão divertido (e essa diversão só pode ser feita por nós), que se pararmos perdemos a montanha russa das emoções, perdemos a vida (seja lá o que isso for).


«Não é parar que é morrer; é ir andando».

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Hoje pensei em escrever a nossa história


Hoje pensei em escrever a nossa história e talvez isso me acalmasse o coração, talvez a corrente do rio que teimo em travar dentro de mim parasse, talvez o mundo parecesse melhor, talvez olhasse para trás e tudo fizesse sentido. Não faz.


Não há sentido numa partida que não se deseja. Não há sentido nas promessas quebradas, muito menos sentido existe num coração que deixou de o ser. E tudo o vento levou, ou levaste tu e deixaste-me despojada de vida.

Hoje pensei em escrever a história de um amor; mas depois pensei: qual amor? Um amor não acaba num pestanejar de olhos, não acaba porque o relógio pára, porque o café amarga, não acaba porque chove lá fora, não acaba porque sim… um amor não acaba. A paixão sim, um amor não. 

Não há promessas e bons momentos que paguem o presente. “O passado fica lá atrás” não é o que se costuma dizer? E se o passado for ainda o presente?

Hoje pensei em escrever uma história. Mas a recordação do sorriso estupido que sempre trazias vestido é o pior dos antídotos para uma mulher seguir a sua vida. 

De recordações não se escreve a historia, dos fracos não reza a lenda, e entre letras, palavras e exaustão de frases é aqui que me apercebo…não há narrativas que valham a pena.

“Foste a maneira mais bonita de errar” mas há erros que não valem a pena. Se um dia voltares, se abrires aquela porta, traz-me contigo, traz-me de volta… talvez aí eu escreva uma história...ou talvez seja tarde demais.