“A minha liberdade termina onde começa
a dos outros” foi esta a máxima que sempre me instituíram desde pequena, e que
fez ainda mais sentido quando me tornei jornalista. Porém, como tudo na vida,
nada é tão simples e linear, a própria palavra “liberdade” é em si demasiado
complexa e pode acarretar consequências graves em qualquer nação, seja ela de
que regime político ou religião se fizer padecer.
No início do ano o mundo assistiu ao
massacre do jornal francês Charlie Hebdo,
e esse mesmo mundo uniu-se contra a violência, contra a limitação da liberdade,
contra o terrorismo. 12 pessoas morreram, 10 eram jornalistas do mesmo jornal
que foi vítima de um repugnante acto de
violência. “Je suis Charlie” de norte a sul do país, de um pólo ao outro, todos
os hemisférios unidos por um mundo melhor… eu fui Charlie, ainda hoje o sou,
não apenas por solidariedade, mas porque a morte de inocentes em detrimento de
máximas que se adquirem me faz alguma confusão, quando morremos porque chegou a
nossa hora pode ser doloroso, quando morremos porque alguém quis agradar a um Deus, a um ditador, a uma ideologia, desculpem-me, mas não consigo entender…
mas ser Charlie não foi só a quando do chacina em Paris, afinal o que define
ser ou não ser Charlie? Somos Charlie porquê? E os fundamentos que tínhamos nessa
altura surgiram e emergiram ao mesmo tempo? E os restantes massacres no mundo?
Os que são e que não são documentados?
São pelo menos 147 os
estudantes mortos no Quénia, as televisões noticiaram “ao de leve”, o digital
tem uma ou outra coisa, mas são as estações internacionais que dão conta da ocorrência…
as redes sociais… ora essas fecharam os olhos e deixaram de ser Charlie, e
porquê?
Não seriam estes
estudantes tão humanos como os jornalistas do Charlie Hebdo, ou o facto de se matarem jornalistas torna-se um
acontecimento mundial com maiores repercussões que se matarem estudantes?
Vidas, destroem-se
vidas, futuros e arrasam-se famílias. É disto que falamos, da morte sangrenta
de vidas que estavam em paz até serem sequestradas e deixarem de ver a luz. E
os “Charlies” onde estão eles? Ou só se é Charlie se estiverem implícito intervir
com a liberdade? Não será o fim de uma vida, o fim à sua liberdade?
Enquanto as
liberdades de cada um não forem respeitadas, enquanto mundo não para de achar que
“O meu Deus é melhor que o teu” e matar por isso, enquanto a consciência e
humanização não se sobrepuser a ideologias que derramem sangue: “Je suis
Charlie”, mas um Charlie com os olhos postos no mundo.
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